Professor não é padre, sala de aula não é feudo!

11:02 Mâniga 0 Comments



Sabe aquela história de que alguém tem que fazer o trabalho sujo? Então, mesmo sendo "a parte feia" alguém tem que fazer e essa pessoa acaba se apegando ao seu trabalho, porque, querendo ou não, aquilo é o trabalho dela e ela se empenha nisso.

Eu já estive nessa posição - hoje, não mais -, então posso falar com propriedade. O que eu nunca fiz foi ensinar algo para um grupo de pessoas com interesses comuns, desse modo, professores, me permitam meter o bedelho um pouquinho na profissão de vocês, principalmente, como alguém que está do outro lado, na parte que fica fora do palquinho, e, muitas vezes, não tem voz na sala de aula por n motivos, sejam eles originados pelo professor ou pelo aluno.

É realmente difícil falar sobre o professor. Me faltam palavras para descrever o quanto admiro tal ocupação (é sério!). Isso se aplica, necessariamente, quando se tratam de professores específicos que passaram e marcaram minha vida. Alguns sabem da admiração que sinto por eles, outros nem sonham. Mas é algo no nível "CARA, EU QUERO SER COMO VOCÊ QUANDO EU CRESCER, ME ENSINA!" e juro juradinho que não estou exagerando.

Todos nós temos aquele professor ou aqueles professores que marcaram nossas vidas. Seja no jardim de infância ou na faculdade, alguns ensinamentos (não apenas acadêmicos) levamos conosco para sempre. E é aí que pode morar um problemão!

Eu vejo o papel do professor na vida de um aluno como uma pré-adolescente vê seu cantor ou ator favorito no auge de sua carreira. Falo da questão da admiração. O que ele diz e faz influencia - e muito - no pensamento e, muitas vezes, nas ações de quem está assistindo e absorvendo aquela informação. Não estou dizendo que se você for professor você não deve fumar porque seus alunos vão fumar também, você tem todo o direito de fazer o que bem entender com a sua vida pessoal, ela é toda sua. Minha analogia diz respeito apenas ao quadro acadêmico, vulgo, dentro da sala de aula.

Acredito que alguns professores devem tomar mais cuidado com a forma com a qual eles escolhem ensinar algum conteúdo. Não! Não estou censurando ninguém, tire esta ideia maluca da cabeça! Estou dizendo que se eu quisesse informação parcial, eu me informaria através de veículos como Folha de S. Paulo, Brasil 247, O Antagonista ou qualquer coisa desse tipo, citando a temática política como exemplo, ao invés de acompanhar vários veículos distintos (os citados inclusos) e quem realmente acredita nas ideologias declaradas pela esquerda, direita e centro, como costumam clamar por aí no discurso arraigado dos militantes e ativistas.

Nem sempre, em uma sala de aula, uma temática polêmica vai gerar um debate. Digo isso porque já vivenciei tal situação em várias ocasiões. Às vezes, as pessoas não se sentem a vontade e seguras o suficiente para contestar o que está sendo dito e outras simplesmente não se importam, só querem assinar a lista de chamada para que possam ir embora. Dessa forma, o palestrante da vez detém o poder de se pronunciar sobre qualquer assunto diversas vezes e, sim, o (des)aprendizado também ocorre por repetição! Quem não teve que decorar a tabuada na terceira série?

"Ah, mas eu ensino matemática/ inglês, não história/ sociologia, isso não é pra mim." Errou de novo! Você pode não influenciar os 40 e tantos alunos da sua sala de aula superlotada, mas alguém está ouvindo o que você está dizendo e está absorvendo aquilo. E, no seu lugar, eu não gostaria de ser responsável pela desinformação e emburrecimento de um indivíduo, quando, na verdade, a função é fazer exatamente o oposto. Eu entendo que a gente acaba colocando um pouquinho de nós mesmos no que a gente faz, nossa essência está presente em nossa ocupação, mas isso não é pretexto para se tentar doutrinar uma turma, ao invés de ensinar. A desculpa de "pensamento crítico" se desfaz quando você, claramente, expõe seu ponto de vista consecutivas vezes e não mostra o que o outro lado diz a respeito, ou ainda, quando precisa ficar justificando o tempo todo que "sua função é ser imparcial, mas...

...mas fulano devia ser preso!"

...mas ciclano é um vagabundo, um *cita o nome de alguma doença ou transtorno mental*."

...mas está claro que era o certo a se fazer (sem explicar o porquê)."

Saiba que, se você faz isso, você não é nadinha diferente daquele jornalão ou jornaleco que você critica por ser oposto aos seus ideais; que calúnia, difamação e injúria são caracterizados como crime contra a honra e estão previstos no capítulo V do Título I da Parte Especial do Código Penal Brasileiro (artigos 138, 139 e 140, respectivamente) e ainda que não é nem um pouco respeitoso e muito menos responsável da sua parte relacionar qualquer comportamento que você reprova a um transtorno/ doença mental apenas para zombar ou ofender alguém.

Isso surgiu de uma reflexão após algumas aulas, nas quais um (a) professor (a) insiste em denegrir antigos clientes que eu tive, mesmo sem provas concretas sobre tudo o que ele (a) está dizendo, e também à equipe que trabalhava com eles - logo, me senti pessoalmente ofendida. Nem todos nós temos o privilégio de escolher com o que ou com quem vamos trabalhar, não é? Se fosse assim, aposto que este (a) professor (a) escolheria lecionar apenas àqueles que possuem o pensamento semelhante ao dele (a) - o que, claramente, não é o meu caso.

Em outro momento, fui obrigada a responder coisas que eu achava que eram absurdas em uma prova porque meu (minha) professor (a) achava que era certo. Em uma matéria que era puramente reflexiva, logo, na qual não deveria existir o certo ou o errado com exatidão. Mas nesse caso existia. E o certo era o que o (a) professor (a) achava que era certo.

Também me lembrei de um episódio perigoso em que um (a) professor (a) que tive no ensino fundamental ginasial me disse algo sobre uma determinada personalidade ser perseguida. Eu, que tinha 12 anos, não utilizava a internet e me informava através dos adultos que me cercavam e da televisão, tomei aquilo como uma verdade absoluta e só descobri que aquilo não era tão verdade assim quando, em 2013, com 18 anos, comecei a ler a respeito por conta da minha ocupação na época e passei a acompanhá-lo (a) de modo mais crítico através das redes sociais (foi quando percebi que o que eu havia escutado era mais algo ligado a convicções pessoais dele (a) do que com a matéria que estava sendo ensinada). Isso não causou nenhum estrago em mim. Mas eu vejo que causou e causa muito estrago em muitas pessoas o tempo todo.

Se eu guardei essa informação por tanto tempo e só fui averiguá-la anos depois porque meu trabalho exigiu, imagine o tanto de ingenuidade e ignorância que não há por aí? Pense nisso nos dias de hoje? Escuto crianças de menos de 11 anos reclamando de ocupantes de cargos do executivo, dá para pensar no tanto de porcaria que essas crianças ouvem o dia todo com um momento social, político e econômico tão delicado quanto esses tempos nos têm oferecido?

Isso é só mais um dos meus desabafos? Provavelmente, mas, na minha cabeça, um desabafo coerente. Não precisamos de mais doutrinação, isso já temos na TV, nos jornais, em livros didáticos. Precisamos de informação e suporte para o pensamento crítico real e não um pseudo-ensinamento que só vai acarretar mais discurso de ódio e polarização. E suporte não quer dizer conhecimento pronto, um professor precisa ter essa sensibilidade, uma vez que detém posição tão relevante, que influencia o pensamento das pessoas e, possivelmente, o que elas virão a se tornar no futuro.

A sala de aula não é um instrumento manuseado em benefício do seu ego, para que você se imponha de tal modo que consiga sentir algum poder sobre aquele grupo de pessoas, independente de suas idades. O professor não é um suserano e eu não sou um vassalo, não preciso de esmolas em troca de favores. Quero conteúdo, sapiência e suporte para aprimorar o meu conhecimento e não aceito nada aquém disso. Já dizia Roger Waters: "Não precisamos de controle mental. Chega de humor negro em sala de aula." E eu não sou apenas mais um tijolo na parede!





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Observação: sobre o título - não tenho absolutamente nada contra padres ou religiões, sou cristã. Fiz apenas uma analogia entre o aprendizado de modo imparcial e o ensinamento religioso, dogmático. :)

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