Frágil coração feminino

19:28 Mâniga 0 Comments


Desde meninas, nós somos ensinadas a tomar cuidado para que não nos machuquem. Não vou entrar no mérito físico porque eu mudaria o foco deste texto. Seria ótimo se os meninos fossem ensinados a respeitarem as meninas e então não precisaríamos ter medo de usar roupas curtas, beber, sair à noite, etc. Mas quero falar sobre sentimentos.

Crescemos ouvindo nos contos de fadas sobre como mulheres são necessariamente emocionalmente frágeis e fáceis de romper. Crescemos vendo outras mulheres sofrendo por algum cara: na vida real, na televisão, em qualquer lugar, são sempre elas quem estão chorando. Crescemos idolatrando divas como Taylor Swift, que nos diz que quando temos 15 anos e alguém diz que nos ama, que acreditaremos neles e depois vamos chorar porque era mentira. Crescemos acreditando que algum cara vai partir nosso coração. Não importa quando, nem quem, apenas sabemos, com toda certeza, que teremos nossos corações partidos por algum deles. E ficaremos devastadas! Nos faltará ar, nos faltará esperança, nos faltarão lágrimas, porque tudo o que faremos será chorar, maratonando algum seriado romântico enquanto devoramos um pote de sorvete e a única coisa que passará em nossas cabeças será "quando é que eu vou encontrar um cara que vai ser legal comigo?".

Bullshit.

Não estou dizendo que garotas como eu não têm seus corações partidos. Na verdade, eu só não ouvi de nenhuma das minhas amigas uma história como a minha. Na verdade, quase todas as minhas amigas tiveram seus corações partidos por alguém - homens ou não. Mas eu não. Não como espera-se que tenha sido. E não, não estou reclamando. É óbvio que um cara já me deixou muito, muito triste, que eu já chorei bastante por alguém e blá, blá, blá. A questão é: a única vez que eu achei que um cara fosse realmente partir meu coração, eu corri na frente e parti o dele. Foi sem querer, mas foi horrível. Típica situação de uma série de erros um atrás do outro, em que você só não sabe como fazer aquilo parar ou como foi que chegou naquele ponto. O mais irônico é que isso aconteceu porque eu estava com medo de que ele me machucasse. Eu disse isso a ele e, ainda assim, fui, como eu sempre digo, "a filha da puta da história" porque eu estava com medo de que ele fosse um filho da puta comigo. Eu estraguei tudo. Além disso, quando eu tinha 15 anos, eu não deixava as pessoas me dizerem "eu te amo", porque eu as dizia que elas não sabiam o que estavam sentindo, que não me conheciam o suficiente para me amarem e que, mesmo que elas repetissem isso mil vezes, era mentira. Agora, eu pergunto: quem sou eu para dizer se o que outra pessoa sente é ou não verdade?

Depois de tentar algumas vezes e ter sempre o mesmo resultado, você só começa a pensar que tem algum problema. Sabe aquela coisa de filmes de adolescentes norte-americanos de "that pretty girl who breaks some hearts", aquela garota que você e suas amigas criticavam no colegial, ou pior: o retrato do "cara babaca" que parte o coração das meninas sensíveis e frágeis? De repente, você é esse cara, mas na versão feminina. E tudo aquilo que você cresceu acreditando, de que tinha que tomar cuidado para não machucarem seu coração feminino começa a soar ridículo, porque na verdade você é quem é o perigo iminente. E não, isso não é motivo de orgulho.

Chega um momento que cansa machucar as pessoas sem querer. Você para de julgar (demais) o esteriótipo do cara babaca, porque as coisas que você faz não são para ferir alguém de propósito, será que com eles não é assim também? Essa sensação de fazer tanto mal para as pessoas sem ao menos se dar conta do quão tóxica você pode ser começa a ficar tão intrínseca, enraizada em todo o resto, que você só passa a gostar cada vez menos de si. Sem drama, falo sério. E se aproximar de qualquer outra pessoa não é uma opção a nenhum prazo, porque já sabemos como a história termina.

Eu não espero que nenhum desses caras que pensam que eu sou "a mina babaca" me perdoem ou que qualquer um lendo isso aqui sinta pena. Não mesmo. Eu só estava pensando sobre isso e cheguei à essa conclusão sobre ficar cada vez mais difícil ser legal comigo mesma e achei que, colocando isso tudo em palavras, eu conseguiria entender um pouco melhor e, talvez, não me sentir mais como uma bomba relógio prestes a explodir, uma dessas que, quando explodem, deixam tudo o que está perto em pedacinhos.

Bom, não funcionou. Mas como dizem na internet: segue o baile.

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