Eu sou a favor da vida!

17:10 Mâniga 0 Comments


Se você não esteve numa bolha nos últimos dias, soube do caso que rolou em Duque de Caxias (RJ), em que a 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal afirmou que não se vê crime na interrupção da gestação durante seu primeiro trimestre. Aí, ao invés de fazer textão no Facebook, eu decidi escrever a respeito do que tenho lido aqui, já que este é um espaço tão pessoal para mim e aqui posso escrever de modo mais concreto. Esse é um assunto que nunca fica velho, é um tabu há anos e não, não estou "atrasada", já que opiniões são apenas opiniões. Se eu fosse juíza do STF ou alguém que, ao se pronunciar a respeito, pudesse influenciar pessoas, seja pela sua formação, seja pela sua ocupação, aí sim, talvez pudesse dizer que perdi o timing. Mas como isso não se trata de business pra mim, vou em frente.

Se teve uma coisa que eu aprendi nos últimos anos estudando Comunicação foi que para fazer qualquer análise sobre qualquer coisa, eu preciso buscar ser o mais cética e imparcial possível, porque na minha profissão, muitas vezes, vou me deparar com clientes cujas filosofias vão muito contrárias às minhas, no entanto, as contas não vão se pagar sozinhas, não é mesmo? E é aquilo: se você não topar, a concorrência topa. A questão é analisar a situação como um todo e não apenas o objeto, o que é um desafio pra mim, já que eu costumo ser muito focada. Outro grande desafio é utilizar essas análises para fazer projeções. A gente tem que ser capaz de projetar uma vantagem futura com uma margem de erro pequena ou quase nula, ou então a gente não consegue fazer com que o cliente confie seu dinheiro em nós. Algo que costuma funcionar para embasar essas projeções são pegar cases semelhantes e apresentar ao cliente, que se ele não for do tipo ousado que gosta de arriscar, ele vai ver que aquilo já foi feito por outras empresas e que dá certo e ele vai obter vantagens, mesmo que o esforço inicial faça parecer o contrário.

Agora, focando no assunto, a principal crítica à legalização do aborto é o suposto atentado contra a vida humana. Então, diz pra mim: pra você, o que é "estar vivo"? Mas assim, sem resposta pronta, tenta refletir mesmo sobre o assunto, sabe? E me dar uma resposta consistente, embasada em alguma coisa. Eu busquei na bíblia, busquei em alguns artigos (coisa rápida) e não encontrei a definição precisa para isso. Então fiz a pergunta de outra forma: qual é a condição para se considerar vivo? A resposta é simples: não estar morto. Mas o que é "estar morto"?

Existe uma lei na Constituição Federal que permite o transplante de órgãos no caso de o paciente ter morte cerebral, mesmo que o coração ainda esteja batendo (Lei 9.434/97, capítulo II - Lei dos Transplantes de Órgãos - Fonte 2). Como diz o artigo da USP que eu li para escrever sobre isso (Fonte 3), "a morte encefálica é um quadro irreversível e significa a morte letal do indivíduo". E se o completo não funcionamento do cérebro é a condição para a morte, o seu completo funcionamento é a condição para a vida. É aí que está o tal do "antes do primeiro trimestre" de gestação, quando o cérebro do feto ainda não está desenvolvido completamente. É, geralmente, no início do segundo trimestre de gestação em que se pode perceber a atividade funcional do cérebro. (Fontes 8, 9 e 10)

Isso perante a ciência e a lei, que foram as formas mais sóbrias de analisar a situação que eu encontrei, independente da minha religião e do que eu acredito sobre quando a vida começa de fato, eu ainda vivo em uma sociedade onde impera uma Lei Superior e nela, o Artigo 5º (Fonte 4) menciona a liberdade do indivíduo dentro da sociedade, que é algo inclusive que coincide com uma da declarações da Bíblia, que menciona que Deus deu aos indivíduos o livre arbítrio quando nos criou (Gênesis 1:26 - Fonte 5), de modo que eu não posso impor minhas crenças ao resto da sociedade, e ainda me sinto livre para optar pela forma mais racional de tratar um assunto que não diz respeito apenas à fé, mas que já virou uma questão de saúde pública com números alarmantes. Eu escolho por entender isso de modo racional, porque cabe ao Estado julgar essa condição como crime ou não e porque isso tem um grande impacto social e, novamente mencionando a Constituição Federal, seu Artigo 19 (Fonte 6) atesta a laicidade da União.

Interromper a gestação virou um assunto de interesse público (no sentido político da coisa), porque não é apenas ao feto que isso diz respeito. Diz respeito à mulher que irá ou não gerar essa criança e à sociedade na qual ela viverá. Uma pesquisa publicada pela Universidade Federal de Brasília (Fonte 7), mostra que, no Brasil, o aborto é tão comum que, em 2010, quando a pesquisa foi realizada, estimou-se que 1 em cada 5 mulheres já interromperam a gravidez. Além de a pesquisa provavelmente estar defasada, pois já se passaram 6 anos, há ainda o fato de que nela não foram contabilizadas mulheres analfabetas, nem residentes em áreas rurais do país. Ou seja, o número de mulheres que já abortaram alguma vez é muito grande, fechar os olhos para isso é uma hipocrisia que afeta o país social e economicamente (vou explicar adiante).

Acontece que ninguém fala sobre isso, obviamente porque é crime, mas também porque é um tabu. Nenhuma mulher que interrompe a gravidez faz isso com prazer, é uma situação dolorosa e de risco para ela mesma. Muitas vezes, algo que ela tentou evitar, por n motivos, mas o método contraceptivo falhou e ela é a única que vai ser julgada por isso, afinal cabe apenas à mulher a obrigação de não engravidar. Muitas vezes, ela também não "procurou", mas devido à condição social em que vivemos, na qual a mulher é vista como frágil e inferior, ela foi vítima da circunstância. A reportagem que o Fantástico mostrou ontem sobre o tema mencionou que o perfil de mulheres que optam por interromper a gravidez são mulheres comuns que sabem o que estão fazendo, não aquele que a maioria imagina como sendo uma jovem inconsequente que "não soube fechar as pernas". 67% delas já têm filhos, segundo uma pesquisa que mostrou que, em 2015, meio milhão de mulheres interromperam a gravidez. Também não se pode trazer quaisquer argumentos preconceituosos contra populações mais pobres, visto que em todas as classes sociais o volume de abortos é semelhante (ou seja, todas optam por correr o risco, mas algumas podem pagar por condições menos piores e não vão popular ainda mais as filas dos SUS depois) e 88% das mulheres que já abortaram alguma vez têm religião. (Fonte 13) Sabendo disso, mais uma vez ratifico: fechar os olhos para essas condições é uma hipocrisia gigantesca, que traz consequências são bem ruins.

Existem 3 principais pontos socieconômicos que eu gostaria de destacar quanto à criminalização do aborto:

1. Mulheres morrem.

Isso é um fato e eu não vou me delongar sobre. Um artigo do Doutor Drauzio Varella (Fonte 11) explica como o aborto clandestino é feito, na maioria das vezes: baseado no princípio da infecção. Isso gera um risco imenso para a mulher, além do constrangimento, e, como ele menciona, é difícil estimar números (por isso, não acreditem em qualquer manchete).

2. Mulheres com abortos mal sucedidos recorrem ao SUS.

"Ah, mas ela também vai recorrer ao SUS, caso o aborto seja descriminalizado". Pense no esforço que a equipe médica emprega em uma situação prevista e controlada e no esforço que ela precisa empregar e pessoas que precisa envolver em uma situação de emergência e risco. É melhor ter uma outra equipe preparada para este tipo de atendimento, já que ele ocorre de qualquer maneira, do que comprometer com uma emergência a mesma equipe que você pode estar precisando naquele momento, sendo que as chances de que a paciente em situação de risco não sobreviva são grandes, porque o aborto foi realizado de modo clandestino, e a equipe ficará muito desgastada.

3. A relação entre o aborto e a criminalidade.

Cruel, mas real. Em 1973, o abordo foi legalizado nos Estados Unidos (pois é, somos atrasadinhos, como sempre), isso fez com que o número de nascimentos de crianças periféricas diminuísse, ou seja, nasceram menos crianças pobres, que, muitas vezes, não teriam um lar, nem estrutura familiar e, que, não raras vezes, teriam poucas condições para adquirir uma boa educação, que lhe garantissem uma vida distante de um comportamento criminoso. Segundo o economista Steven Levitt, cerca de metade da queda do nível de criminalidade entre 1990 e 2000, nos Estados Unidos, se deve à descriminalização da interrupção da gestação. Em Freakonomics, Sthepen Dubner e Steven Levitt falam sobre isso. (Fonte 12) Como se pode perceber, é uma medida para se pensar a longo prazo.


Particularmente, eu entendo as pessoas que são contra o aborto, sou alguém bastante privilegiada, tive excelentes oportunidades para ir atrás das coisas que eu quero e viver como eu vivo. E eu entendo o quanto essa é uma situação delicada, mas como eu falei, não posso impor o que eu penso a todo mundo, porque nem todo mundo vive a minha realidade, e posso aceitar numa boa o fato de que muita gente vai discordar de tudo isso. Acontece que ser a favor da vida e ser a favor do nascimento, infelizmente, são coisas distintas.

Eu sou a favor da vida. Sou a favor de que as pessoas vivam bem, com qualidade, que de fato vivam! E não apenas existam, como mais um "incômodo para o Estado", que assim os veem. Sou a favor de que as pessoas tenham o que comer, onde morar, sejam queridas e tenham o carinho da família em todos os momentos, mesmo que essa família não compartilhe DNA. Sou a favor de que as pessoas cresçam com condições psicológicas para segurar essa barra que a gente chama de vida - e olha que, mesmo muitas vezes crescendo em ambientes ótimos, as pessoas não têm. Sou a favor da vida da mulher também, que, embora eu odeie admitir, ainda precisa mostrar que tem voz e vontade própria. Sou a favor do que for melhor para a sociedade, porque, mesmo que às vezes a gente deteste isso, o fato é que a gente precisa aprender a conviver e a respeitar as divergências. E se tem uma coisa que não pode reger a sociedade, essa coisa é a religião, a gente já viu que não dá certo. Lembre-se, se dependesse do julgamento religioso, não realizaríamos transplantes de órgãos, não tomaríamos vacinas, não salvaríamos vidas já existentes, que é o que estamos fazendo olhando para este assunto com base unicamente na religião.

Portanto, que a gente tente progredir sempre pensando na sociedade como um todo, de modo sóbrio, com base na lei, não em valores pessoais.


Fontes: 1 / 2 / 3 / 4 / 5 / 6 / 7 / 8 / 9 / 10 / 11 / 12 / 13

0 comentários:

[Atualizado 06/12] Conheci a Lauren Kate!

17:36 Mâniga 0 Comments


Lauren Kate é uma escritora de ficção young adult. Ela é norte-americana e escreveu, entre outros livros, Fallen, uma série de quatro livros, que conta com outros três spin-offs. Fallen, o primeiro livro da série, chegou a ser best-seller do jornal The New York Times. E, após longos anos esperando, a adaptação cinematográfica do livro finalmente ficou pronta! A pré-estreia será amanhã, dia 05/12 (!!!!) e a estreia será dia 08/12.

0 comentários: